segunda-feira, 3 de novembro de 2008

APOLOGIA DO INFANTE

Imensa formação de brancas cruzes,
Desfile mortuário de fantasmas,
Exótico mercado de miasmas,
Exposição de ossadas e de urzes...

Calado e mudo queda-se o canhão,
Apenas trevas cobrem a amplidão.
Que outrora foi um campo de batalha.
Calada e muda queda-se a metralha.
É morta na garganta da voz do obus,
O sabre traiçoeiro não reluz.
A paz voltou, é terminada a guerra.

Os heróis já também tombaram das alturas.
Covardes, bravos, jazem alvejados.
Seus feitos, tudo aos livros relegados.
Nada mais resta, apenas sepulturas.

E eu, quem sou? Perguntam, eu, quem sou?
Pois bem, eu lhes direi: Sou um soldado,
Igual a qualquer outro que lutou,
Que avançou, que combateu, que foi derrubado.

Cruzes iguais... Terrivelmente iguais,
Exército que cresce mais e mais,
No festim diabólico da morte,
Aqui jaz o covarde, ali o forte,
Aqui dorme um estranho, ali estou eu...
Mas ninguém sabe como ele morreu...
Não se lembra do campo de batalha.
Nunca ouviram o risco da metralha...
Não sentiram o tremer do campo inteiro...
Ao rugir terrível do morteiro...
Nunca viram de perto os olhos do inimigo.
Não sentiram o medo do perigo,
Que nos faz desejar a morte breve.
Nunca sonharam. Nunca, nem de leve, mas...
Nem todos se esqueceram do Soldado, que está longe,
Bem longe sepultado.

Mamãe, oh! Minha mãe, se te contasse...
O medo que senti sem teu carinho
Um medo horrível de morrer sozinho.
Medo mesmo que o medo me matasse...
Mas deixei o meu abrigo e avancei,
Julgando ver a morte a cada passo,
Ouvindo o sibilar de um estilhaço.
Parei...Pensei em ti... Continuei...

Minha querida mãe se te dissesse
Que quando derrubou-me uma granada
Atirando-me a terra enlameada,
Foi por ti que chamei desesperado.
Por instantes deixei de ser Soldado,
Para novamente ser uma criança.
Sentindo então, na morte, a esperança,
De ainda adormecer nos teus braços...

Minha querida noiva, porque choras?
Relembras certamente as boas horas
Que passamos juntos.
Só nós dois íamos casar, Lembras?
E depois ... E depois uma casa retirada,
Cortinas nas janelas, enfeitadas,
Tu me esperando... Eu vindo do quartel,
A nossa casa, um pequeno céu.
Aberto para a vinda de um herdeiro.

Meu sonho, foi um sonho derradeiro
O de beijar-te antes de morrer,
Mas antes o golpe frio da granada,
Beijei apenas a terra ensangüentada.

Minha mãe, minha noiva, aqui se encerra,
Uma historia de sangue: Esta é a guerra,
Não chorem. Tudo agora é terminado,
Rápido como coisa de Soldado

Mas mamãe...
Se novamente a pobre humanidade,
Mais uma vez em busca da verdade,
Rufar seus tambores sobre a guerra,
Se mais um filho a pátria te exigir,
Sem lagrimas, mamãe, deixe-o ir...
Embora te destrua o coração,
Ainda que te alquebre a agonia
Por favor mamãe, pede a esse irmão,
Para que seja também de “INFANTARIA”!

Um comentário:

Unknown disse...

pugioli.

hey esse poema tem no meu orkut...

o final dele ta no meu profile, e tem um video dele narrado lá nos meus videos o nome é "lembrai-vos da guerra", me arrepia só de ouvir...

caraca esse é o melhor blog que eu conheço...

abraço filipo