sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Torneio da Tropa de Infantaria



Após décadas deixados “à poeira” os infantes da aeronáutica mostram força e buscam espaço. Com o domínio da tecnologia e da operação do poder antiaéreo a tropa vai garantir seu futuro e o lugar nas grandes decisões da FAB

A selva amazônica foi o cenário escolhido para o mais importante evento da Infantaria da Aeronáutica. Durante oito dias a Base Aérea de Manaus sediou o IV Torneio da Tropa de Infantaria. Estiveram presentes 260 “camuflados verde-azuis” dos sete comandos aéreos regionais da Força Aérea Brasileira.

“TTI como é chamado, “é importante por oportunizar o contato entre militares de todo país, promovendo a troca de experiências e idéias a fim de melhorar o aperfeiçoamento da tropa através de competições que estão intimamente ligadas com as atividades diárias nos quartéis em épocas de paz ou em situação de guerra”, disse o Tenente-Coronel Luiz Marcelo Sivero Mayworm, comandante do Batalhão de Infantaria Especial de Canoas (BINFAE-CO).

Os militares foram testados até o limite nas provas de Pista de Obstáculos, Cabo de Guerra, Tiro Militar Avançado, Corrida de Orientação, Emprego Operacional, Prova do Coordenador e Conhecimento Doutrinário. A campeã foi a delegação do VI COMAR, sediada na Base Aérea de Brasília.


Brigadeiro-de-infantaria Roberto Durans Amorim

Sikorsky Blackhawk 60L lançando competidores em uma das
provas do TTI


Além das provas práticas o evento serviu também para a discussão de aspectos doutrinários e operacionais. A tropa de infantaria tem tido especial atenção na gestão do Tenente Brigadeiro-do-ar Juniti Saito. Recentemente foi criado o Centro de Operações Terrestres da Aeronáutica (COTAR), que atualmente é chefiado pelo Brigadeiro-de-infantaria Roberto Durans Amorim, o segundo militar a ser promovido oficial-general na tropa. O COTAR é subordinado ao Comando Geral de Operações Aéreas (COMGAR), em Brasília.

Mesmo com os avanços obtidos com o atual Comandante da Aeronáutica, os militares querem mais. O desejo de possuírem um Comando próprio e não subordinado à aviação é grande entre muitos oficiais-superiores. A medida por enquanto não foi para o papel e se for discutida e aprovada pelo Alto-Comando da FAB, sua implementação poderá levar anos.

A valorização começa por dentro

Vários setores da FAB ainda vêem a infantaria como uma tropa de importância limitada e esquecem que a os primeiros alvos de uma guerra são sítios radar, instalações de comando e controle e bases aéreas. A defesa destas instalações, seus meios e efetivos é vital para assegurar o domínio do espaço aéreo. A segurança das vilas militares onde residem os pilotos e suas famílias é outro ponto de muita atenção. O trabalho dos sentinelas é muitas vezes subestimado por eles próprios por não saberem que é mais fácil para elementos de Forças Especiais da força adversa seqüestrar ou neutralizar pilotos em terra do que sua aviação fazer pelo ar. Na guerra contemporânea, saber onde estão os pilotos é mais importante do que procurar onde estão as bases.

Artilharia Antiaérea

Outro ponto de grande debate na TTI foi a Artilharia Antiaérea. A FAB já possui na Base Aérea de Canoas, a 1ª Companhia de Artilharia Antiaérea de Autodefesa (CAAD). Operando mísseis russos Igla 9k38. Foi instalada no Sul do país e tinha em vista as condições estratégicas da região nos anos 90. Agora a atenção migrou para o norte do país com a crescente militarização de países limítrofes. O ponto mais importante e sensível dela é a Base Aérea de Manaus (MAMN), a principal base estratégica da Amazônia, onde estão sediados o 1º/9º GAv, o 7º/8º GAv, o 7º ETA e 4º Batalhão de Aviação do Exército.


1ª Companhia de Artilharia Antiaérea de Autodefesa (1ª CAAAD),
que utiliza o míssil Igla 9k38, de origem russa.

Estas unidades aéreas são responsáveis por toda a mobilidade de tropas e logística dentro do Teatro de Operações da Amazônia (TOA). Sem elas todos os deslocamentos seriam realizados por vias fluviais nem sempre navegáveis e que demorariam até 40 dias. É por isso que será instalado em Manaus a 2ª CAAAD. Embora necessária e tardia, a medida recebeu críticas já que transferirá do Rio Grande do Sul militares importantes e necessários, o que segundo as fontes ouvidas, deixará operacional duas “meias” companhias.

Está em estudo, também, a instalação de um esquadrão de caças F-5 em Manaus, colocando as aeronaves recém adquiridas da Jordânia, já que a necessidade de possuir um vetor supersônico na região é urgente. A Amazônia ocupa mais de 50% do território brasileiro e ainda não possui uma aeronave de alta-performance capaz de fazer frente à uma ameaça maior. Por enquanto a FAB não planeja modernizar essas aeronaves ao padrão F-5M já que elas possuem uma aviônica e sistema de armas superior ao usado anteriormente pela Força, embora inferior ao atual. Se os estudos se concretizarem, a medida será uma solução tampão que vai atenuar a insegurança gerada pela falta de um vetor supersônico na região.

O IGLA é um míssil de curto-alcance, ideal na função de defesa pontual, com um histórico de sucesso em uma série de conflitos armados. Está na categoria MANPADS (Man Portable Air Defense System). Ataques usando CCRP – Cálculo contínuo do ponto de lançamento da bomba – e bombas guiadas a laser – JDAM - estão fora do seu envelope de operação (Distâncias Máximas de Engajamento do alvo Altitude 3.500m e Distância 5.200m). É por isso que um grupo de alto-nível composto por oficiais de infantaria da aeronáutica está concluindo um estudo, que visa recomendar a aquisição de meios antiaéreos de médio alcance capazes de atingir um alvo a dezenas de quilômetros e em grande altitude. Um dos equipamentos finalistas é o sistema russo Tor. A FAB tem interesse no sistema desde que ele venha numa versão auto-rebocada ou montada numa viatura sobre rodas e não lagartas, podendo ser transportado num Hércules C-130 em questão de horas.

O futuro da Infantaria da Aeronáutica

Conscientizar as lideranças sobre a importância e a necessidade de uma definição das atividades a serem executadas pela tropa de infantaria em prol da FAB, e uma vez que sejam definidos os objetivos, planejar as necessidades logísticas, administrativas e operacionais. A padronização das camuflagens, equipamentos e fuzis e calibres com as demais forças é outro ponto importante, necessário e até agora não discutido.


Kaiser Konrad
kaiserk@defesanet.com.br
Enviado Especial a Manau

Fonte: http://www.defesanet.com.br/fab1/tti.htm

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